Clima, pandemia, dólar e petróleo devem influenciar valor do açúcar em 2022

Clima, pandemia, dólar e petróleo devem influenciar valor do açúcar em 2022

Perspectivas pouco favoráveis – que incluem não apenas os elevados custos com insumos importados e economias doméstica e mundial desaceleradas –, que prejudicam a produção e o consumo da commodity, vem impactando o cenário para o mercado doméstico de açúcar em 2022.

“Muitas incertezas em relação às variáveis macroeconômicas, como a taxa de câmbio e a oscilação nos preços de petróleo, somam-se preocupações com o clima e, sobretudo, a temores de que a pandemia volte a impactar as economias mundiais”, afirmam pesquisadores da CEPEA, Dra. Heloisa Lee Burnquist, Bel. Maria Cristina Afonso, Bel. Silvia C. Michelin, Bel. Augusto Barbosa Maielli e Bel. Vanessa Vizioli, em relatório divulgado na última sexta-feira (7).

Nesta conjuntura, as expectativas quanto à produção e ao consumo de açúcar no Brasil estão conservadoras frente às de 2021. O nível de preços praticados parece ter menor relação com os movimentos de oferta e demanda no mercado da commodity que com outros fatores exógenos, podendo-se incluir também o aumento no custo de frete, interno e internacional.

Os pesquisadores apontam que a produção de cana-de-açúcar no Centro-Sul na temporada 2022/23 será um ciclo de recuperação tímida, devido às sequelas de uma longa estiagem, de ocorrências de geadas e dos focos de incêndios que assolaram os canaviais da região em 2021. Assim, projeta-se produção entre 520 milhões de toneladas e 578 milhões de toneladas de cana.

O mix de produção permaneça ligeiramente mais alcooleiro, em torno de 55% para o etanol e de 45% para o açúcar. Se as variáveis macroeconômicas como o câmbio e petróleo sustentarem os preços da gasolina, o etanol estará mais competitivo e com valores atraentes para as usinas também decorrente de sua liquidez em um contexto de juros elevados.

“Caso não ocorram mudanças substanciais nas tendências tomadas pela economia brasileira, o dólar pode manter-se fortemente apreciado em relação ao Real. Mesmo com a possível alta dos juros nos Estados Unidos, o Real pode se manter depreciado em 2022. Para o petróleo, o mercado está atento à variante ômicron do coronavírus. No caso de novas restrições serem mais leves, agentes esperam alta da demanda pelo petróleo, o que pode manter o valor do barril elevado, favorecendo, por sua vez, a ênfase na produção do etanol pelas usinas brasileiras”, elucidam os pesquisadores.

Na Índia, preocupações com a crise energética e com emissões de GHG têm feito o país aumentar a produção de etanol. O governo indiano quer elevar a mistura em 20% de etanol na gasolina até 2025. Com isso, a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (Isma) diminuiu a expectativa de produção de açúcar na temporada 2021/22, de 31 milhões de toneladas para 30,5 milhões de toneladas.

Segundo o relatório, nesse cenário de clima desfavorável no Brasil e de concorrência do etanol com o açúcar, a produção mundial de açúcar deverá registrar novo déficit na temporada 2021/22. Para a Organização Internacional do Açúcar (OIA), o saldo negativo será de 2,55 milhões de toneladas. Em contrapartida, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê um superávit elevado, de 11,13 milhões de toneladas, na contramão das consultorias e tradings. O Departamento Norte-Americano considera que a melhora nas produções da União Europeia, Índia e Tailândia pode compensar o declínio na oferta brasileira.

Para o USDA, a previsão de produção de açúcar na temporada 2021/22 é de 16,6 milhões de toneladas, alta de 7,8% sobre o ciclo anterior. Para a China, o USDA estima produção de açúcar ligeiramente menor, de 10,3 milhões de toneladas, queda de 2,86% em relação à safra 2020/21. Na Tailândia, a produção deve aumentar em 10 milhões de toneladas de açúcar na atual temporada 2021/22.

 Quanto ao consumo mundial de açúcar, a OIA estima crescimento de 1,16% para a temporada (2021/22) relativamente à anterior, o que corresponde a um volume de 173,03 milhões de toneladas. A taxa de avanço anual da demanda mundial de açúcar vem diminuindo.

Quanto aos preços internacionais, acredita-se que devem seguir em patamar mais elevado, em torno de 19 centavos de dólar/libra-peso, se as economias retomarem o crescimento, o que dará também suporte para os valores brasileiros do adoçante.

Fonte; Jornal Cana

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