Safra global de açúcar 2022/23 terá superávit de 4,1 milhões de toneladas, projeta StoneX
Com a atual temporada internacional de açúcar se encaminhando para a reta final, as atenções do mercado açucareiro começam a se voltar para a temporada 2022/23, que irá começar em outubro deste ano.
Conforme relatório divulgado pela StoneX nesta terça-feira, 10, o grande destaque são as perspectivas de crescimento em importantes produtores globais, como Tailândia, Brasil e Índia. Por outro lado, a fabricação do adoçante em localidades como Estados Unidos, México e países da América Central deve ser pressionada, tendo em vista as condições climáticas adversas e os choques provocados pela eclosão do conflito russo-ucraniano, segundo aponta o documento.
O relatório é assinado pelos analistas Filipi Cardoso, Arthur Machado e Marcelo Di Bonifácio.
Com isso, a StoneX projeta que o saldo global de açúcar alcance um superávit de 4,1 milhões de toneladas no próximo ciclo internacional, o que representaria o maior patamar desde o ano safra 2017/18.
O superávit é sustentado pelo aumento de produção do adoçante em diversos países. Ainda assim, o recuo da produção nas Américas e na Europa deve limitar a oferta global de açúcar, segundo a consultoria.
“Destaca-se que os custos relacionados à produção, em especial aqueles com insumos agrícolas, devem continuar como ponto de atenção em diversas localidades”, completa o relatório. Assim, a StoneX estima que a produção da commodity em 2022/23 alcance 194,6 milhões de toneladas (valor bruto), um avanço anual de 2,8% frente ao estimado para o ano safra corrente.
Pelo lado da demanda, as análises da StoneX apontam para a retomada do aumento do consumo, muito associado às expectativas de retorno do crescimento econômico global, ainda que a possibilidade de futuros surtos localizados de covid-19 se coloque como um ponto de atenção. No comparativo com o estimado para a safra anterior, a projeção da StoneX é de um aumento anual de 1,1%, totalizando 190,5 milhões de toneladas (valor bruto).
Os estoques finais devem crescer para 79,5 milhões de toneladas, alta anual de 5,4%, fazendo com que a relação estoque/uso se posicione em 41,6% (+1,6 p.p.).
No Brasil, a safra 2022/23 (outubro a setembro) vai continuar marcada pelo maior direcionamento do mix produtivo das usinas ao etanol. “Esse cenário fica na esteira da atratividade e liquidez do mercado do biocombustível e se justifica pelo superávit global açucareiro estimado para o período, puxado especialmente pelo avanço das produções indiana e tailandesa”, aponta o relatório.
Contudo, no geral, a moagem maior no Centro-Sul, por conta de condições climáticas favoráveis, pode beneficiar a fabricação do adoçante na região, dando ainda expectativa positiva para o setor. Diante deste contexto, a StoneX espera que a produção no Centro-Sul alcance 32,1 milhões de toneladas (tel quel) no próximo ciclo global, avanço anual de 7,3% frente ao estimado para a temporada 2021/22.
No Norte-Nordeste do país, as perspectivas para 2022/23 (outubro a setembro) ainda são iniciais, de acordo com a consultoria. As chuvas benéficas no início de 2022 podem ter trazido melhoras nas condições hídricas das lavouras e, caso isso se mantenha nos períodos de pico de precipitações (entre maio e julho), o açúcar total recuperável (ATR) médio da região pode registrar melhora.
Com pouca margem para alteração do mix produtivo nas usinas norte-nordestinas, que devem manter o maior direcionamento de cana à produção de etanol, e uma moagem devendo manter nos níveis da safra anterior, a StoneX estima que a produção pela região em 2022/23 (outubro a setembro) totalize 3,1 milhões de toneladas (tel quel), uma variação anual positiva na ordem de 3,4%.
Perspectivas positivas na Ásia
De acordo com a StoneX, a produção de açúcar no continente asiático deve ser marcada por firme avanço em 2022/23, com um crescimento médio entre os principais países produtores estimado em 5,1%. Além de preços mais atrativos e incentivos governamentais, a produção na Ásia também deve ser beneficiada pelo clima.
Considerando a perspectiva positiva para as condições climáticas e a ausência de competição entre culturas, segundo a StoneX, o novo ciclo indiano deve apresentar um crescimento sobre a produção de açúcar, estimada em 36,5 milhões de toneladas (valor branco). Também deve acontecer um maior desvio de matéria-prima para a produção de etanol, uma vez que a taxa média de mistura na Índia deve chegar a 12% ao final do próximo ano.
O regime de chuvas de monções deve se mostrar favorável ao desenvolvimento dos canaviais, com os modelos do Departamento de Meteorologia do país (IMD, sigla em inglês) prevendo que as chuvas alcancem de 98% a 99% da média de longo prazo. Esse fenômeno climático é considerado normal quando se posiciona em uma variação de 96% a 104% em relação à normalidade, conforme a entidade.
No período pré-monções, que se estende entre os meses de março a maio, a umidade acumulada varia de forma significativa entre as principais regiões canavieiras da Índia. De acordo com a StoneX, enquanto os estados de Uttar Pradesh e Maharashtra registram déficits significativos, Karnataka tem registrado precipitações bastante acima da normalidade.
De modo similar, as boas condições climáticas também tendem a favorecer a produção na Tailândia. Segundo dados do Departamento Meteorológico do país (TMD, sigla em inglês), as chuvas ganharam ritmo nos últimos meses, favorecendo o potencial produtivo dos canaviais.
Em relação à competitividade da produção canavieira frente a outras culturas, a dinâmica tailandesa é marcada por intensa competição de área entre a cana-de-açúcar e a mandioca ou o arroz. Para o novo ciclo, uma vez que a elevação dos preços de insumos afetou todas as culturas, a perspectiva da StoneX é de que a cana continue se mostrando mais atrativa.
Com isso, a consultoria espera que a produção de açúcar no país apresente a maior taxa anual de crescimento entre os países asiáticos, estimada em 13,9%. Se o valor for concretizado, a produção do adoçante na Tailândia deve ultrapassar a da China, podendo chegar a 11,5 milhões de toneladas (valor bruto) em 2022/23.
Ainda assim, a China deve apresentar uma recuperação frente à produção de açúcar em 2021/22, estimada em um valor 7,2% abaixo da temporada anterior. No novo ciclo, a produção chinesa deve chegar a 11,2 milhões de toneladas (+4%), sobretudo em razão de um aumento de área.
Contudo, a StoneX destaca que a recente disparada do número de casos de covid-19 no país desperta preocupação, tanto em relação à demanda pelo adoçante quanto à sua oferta, uma vez que a imposição de medidas de isolamento social também impacta os trabalhos no campo.
Atenção ao clima europeu
No continente europeu, ainda que a nova temporada esteja projetada acima do patamar de 2020/21 – no qual foi registrado significativa quebra de produtividade –, a redução da área destinada ao cultivo da beterraba deve levar a uma produção de açúcar 5% abaixo do estimado para o ano-safra corrente, de acordo com a consultoria
Contatos da StoneX na Europa destacaram a migração de área para o cultivo de trigo e canola, além de relatarem a presença de pulgões, transmissores do vírus amarelo, e da manutenção das medidas legais que proíbem o uso de neonicotinoides para o controle dos pulgões em importantes regiões produtoras do bloco.
A produção estimada pela consultoria é de 16,3 milhões de toneladas (valor branco), com a fabricação limitada pelas condições climáticas. “A ocorrência de temperaturas mais baixas no começo de abril sobre grande parte do território francês, alemão e inglês impactou, ainda que de forma limitada, aquela parte da produção de beterraba ainda em seus estágios iniciais de desenvolvimento”, apontam os analistas.
Por outro lado, grande parte do plantio avançou de forma consistente sob condições “ótimas” ao final do mês de março e na segunda metade do mês de abril, o que limitou as perdas.
As atenções também se voltam à umidade do solo, que se encontra abaixo da normalidade. No Leste Europeu, região que tem sido destaque em meio às notícias relacionadas ao conflito armado entre Rússia e Ucrânia, o plantio da beterraba sacarina segue avançando, com perspectiva de crescimento da produção açucareira. Na Rússia, a StoneX estima crescimento anual significativo, de modo que pode chegar a 6,6 milhões de toneladas (valor branco).
Na Ucrânia, apesar do conflito armado no país, o Ministério do Desenvolvimento Econômico afirmou, recentemente, que 167 mil hectares já haviam sido semeados até o momento, o que equivale a cerca de 98% da área nacional estimada para o cultivo do tubérculo.
Em razão do atual contexto que se encontra a Ucrânia, a produção de açúcar no país deve apresentar firme recuo frente, de acordo com a StoneX, na ordem de 22%, podendo ficar abaixo de 1,1 milhão de toneladas em 2022/23.
América do Norte tem complicações com insumos
Nos Estados Unidos, o plantio da beterraba segue em ritmo lento e atrás do observado no ano passado, de acordo com a StoneX. Conforme dados disponibilizados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, sigla em inglês), apenas 18% da área prevista havia sido semeada até o dia 1º de maio, abaixo tanto no comparativo com o mesmo período do ano passado (76%) quanto com a média dos últimos cinco anos (47%).
Por conta desse atraso e do registro de condições climáticas adversas, com um clima marcado por baixas temperaturas e baixa umidade, a consultoria estima que a produção de açúcar no país apresente um recuo anual de 2%, para 8,3 milhões de toneladas (valor bruto) na safra 2022/23.
Em paralelo, a produção do México também tende a se situar abaixo do estimado para a temporada corrente. Assim como em outras localidades, um dos principiais entraves para a produção mexicana na próxima temporada deverá ser a oferta de insumos agrícolas, em especial de fertilizantes. Por isso, a consultoria espera um recuo anual na ordem de 3,2%, de modo que a produção açucareira está estimada em 6 milhões de toneladas (valor bruto).
Temporada 2021/22
A StoneX revisou positivamente a estimativa para o saldo global de açúcar no ciclo corrente, de modo que voltou a se posicionar em superávit, com 0,9 milhão de toneladas. Ao final do ano safra internacional de 2021/22 (outubro a setembro), portanto, a entidade estimou que os estoques se posicionem em 79,3 milhões de toneladas, passando para um crescimento anual de 5,5%, e resultando em uma relação estoque-uso de 39,9%.
Apesar do crescimento expressivo da produção de alguns países, em especial na Índia e na Tailândia, a expectativa de um resultado menor nas Américas limita o saldo global, ainda que esse seja estimado superavitário no ciclo 2021/22.
A perspectiva da StoneX para a oferta global de açúcar é de que a produção da comodity atinja 189,3 milhões de toneladas, ou um crescimento anual de 3% – frente a última da entidade estimativa, de março, houve um ajuste positivo de 2 milhões de toneladas.
Pelo lado da demanda global, a StoneX manteve a expectativa de crescimento anual de 0,9%, atingindo 188,4 milhões de toneladas. Ainda que o recente aumento do número de casos de covid-19 na China se coloque como um ponto de atenção, há perspectiva de retomada do crescimento econômico global e manutenção do controle da pandemia em outros centros consumidores da commodity.
Além disso, a consultoria destaca que o prêmio do açúcar branco vem se posicionando acima de US$ 100/t desde o começo de março. Para os analistas, isso indica a existência de um maior apetite de compra por parte de polos de refino.
Fonte:NovaCana